As crises políticas
Até ao fim do primeiro trimestre deste ano ninguém, ou muito pouca gente, acreditaria numa eventual crise política que pudesse por em causa um governo de legislatura, mesmo na situação de minoria parlamentar por já não contar com a colaboração do BE e do PCP na chamada “geringonça” do governo 2015/2019.
O discurso oficial e os comentários políticos até ao início do primeiro trimestre eram convergentes, com o histórico excedente orçamental; da estabilidade económica e financeira; da estabilidade social; do crescimento do PIB… um verdadeiro sucesso!
Outra coisa não seria de esperar atendendo à conjuntura económica e financeira que se vivia no ciclo económico de 2014 até final de 2019. Com a disseminação da crise sanitária à escala planetária, todas as expetativas sentidas (às vezes exageradas), cedo foram contrariadas pelos resultados catastróficos que, em cada dia que passa, se afigurarem de tal gravidade com apenas uma certeza: dias muito difíceis nos esperam.
Ora, com este cenário de crise, os partidos políticos recentraram as suas estratégias. Uns através da sua coesão interna com apelo à unidade; outros a proporcionarem a “contagem de espingardas” com picardias entre fações do mesmo partido atendendo ao novo quadro político emergente, e ao eventual encurtamento do ciclo eleitoral legislativo.
Na elaboração do orçamento para 2021, até ao próximo mês de outubro, não estará ainda em causa a sua aprovação, nem que seja com a abstenção do PSD. Em primeiro lugar porque Marcelo Rebelo de Sousa precisará de estabilidade política para a sua reeleição já em Janeiro próximo; em segundo lugar porque Portugal assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre também de 2021.
Ora assim sendo, teremos uma trégua política mais consensual entre o PS e o PSD com eventual afastamento de outros partidos, com maior destaque no BE e PCP, em resultado das condições muito preocupantes do estado da economia do país, acompanhada de uma crise social e eventualmente financeira, e a inevitável supressão de milhares de postos de trabalho.
É dentro deste novo quadro, que as lideranças políticas dos diversos governos começam a ficar ameaçadas. No PS assistimos, já, às críticas entre grupos de fação que dão sinais de “marcação no terreno” para a sua afirmação: Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, quando teceu duras críticas à gestão do surto pandémico em Lisboa e atingir, politicamente os seus anteriores aliados e, em particular, o seu ex-vice presidente Duarte Cordeiro, o ministério da saúde, e a direção geral; logo a seguir, Pedro Nuno Santos demarcou-se das posições de António Costa quanto à estratégia das presidenciais; depois Carlos César a dizer que para a sucessão de António Costa terão que esperar sentados… Sim poderá ser! E as cadeiras estarão seguras? Veremos lá mais para o final de 2021! Aí se saberá se esperaram sentados ou vão colher já os seus frutos. Dependendo, também, claro está, deste PSD a continuar numa atitude de “romantismo” político de oposição.
Por cá tudo parado até ao final desta semana. No PS vão contar votos para a federação de Braga e tudo se joga para o poder de influência da concelhia; no PSD a luta é para a concelhia porque já tudo se jogou para a federação. Mas é caso para dizer que, em ambas as situações, tudo se jogará em torno da definição para as autárquicas de 2021.
Resta esperar para ver e crer. O BTF não espera mais porque 2021 já começou há muito tempo!
Domingos Pereira – vereador do BTF na CM de Barcelos.
Com a edição de 16-07-2020, do Jornal Barcelos Popular.