
Táticas e estratégias políticas
A pouco mais de um ano das eleições autárquicas de 2021, os partidos de dimensão parlamentar começaram já a definir as suas táticas e estratégias para delas poderem traçar o caminho para as legislativas de 2023 se, entretanto, nenhuma crise de natureza política até lá não ocorrer, tendo em consideração o quadro parlamentar existente que suporta um governo minoritário, com uma agravante: a incerteza da crise económica e social cuja dimensão está ainda por apurar.
Podemos dizer que, até outubro de 2021, ainda teremos as eleições presidenciais. Mas como é mais que previsível estas eleições não deixarão de constituir um género de “passeio” eleitoral para o atual presidente da República tendo em atenção a avaliação que a maioria dos portugueses fazem sobre o mandato em curso, por um lado, e pelos apoios mais que certos do PSD e do PS, por outro.
É por isso que, para o PSD, as eleições autárquicas de 2021 não se podem traduzir numa questão meramente tática quando, de acordo com um artigo publicado no jornal Expresso de 1 de fevereiro, pp 8 e 9, um membro do “núcleo duro” de Rui Rio refere que “Não confundamos questões táticas com questões estratégicas” se depois a direita não tiver a maioria de 116 deputados no parlamento para formar governo. Ora, esta estratégia de maioria para formar governo em 2023, passa por um bom resultado nas autárquicas de 2021.
Porque, e ainda de acordo com o dirigente próximo de Rui Rio, uma coisa é a política de alianças com os partidos ao centro e à direita para chegar ao poder e governar, “Coisa diferente é falar em alianças locais para roubar câmaras aos socialistas”. E é aqui que o PSD apresenta uma visão de humildade quando na moção apresentada por Rui Rio no congresso, e ainda de acordo com o mesmo dirigente, “o PSD deverá estabelecer compromissos eleitorais com outras forças políticas, movimentos e grupos de cidadãos independentes…”
Ora, se Rui Rio entende que as manobras imbuídas de um certo tacticismo político não servem uma estratégia de alcance nacional, cada caso deve compreender a realidade local para liderar e ganhar onde o PSD é poder; e acordos ou alianças pré-eleitorais para conquistar ou reconquistar o poder…
É, portanto, dentro deste cenário de racionalidade política que o PSD nacional desenhou para os diferentes concelhos e distritos uma estratégia que, em abono da verdade, não se vislumbra aqui em Barcelos, por uma questão meramente tática que tem permitido uma indefinição política com maior evidência nas autárquicas de 2017.
Ninguém de bom senso terá dúvidas, que as lideranças políticas deste PS local desde 2016 estão a comprometer o desenvolvimento de Barcelos e a “branquear” uma prática de gestão autárquica em violação gritante do nosso estado de direito democrático.
Porém, desenganem-se aqueles que pensam que este PS está a “dormir”. Não está! Em primeiro lugar porque eventualmente terá insónias ao sentir a possibilidade real de perder a câmara em 2021 e, por isso, ter mais tempo para enganar; em segundo lugar porque quer, a todo o custo, manter o poder sem nada fazer, mas alimentar clientelas com influências deveras preocupantes. Mas tem uma estratégia: apresentará um candidato sem grande visibilidade e afirmação políticas para que, o atual presidente Miguel Costa Gomes, se apresente em segundo lugar na lista e, através do seu nome, tentar tirar os dividendos do capital político acumulado ao longo de 13 anos.
Paradoxalmente, e se esta estratégia fosse vencedora teríamos um presidente de facto, o número dois da lista; e um presidente de direito, o vencedor com funções meramente decorativas que, estou certo, os barcelenses saberão dizer basta!
Tendo em conta este cenário que a todos deve preocupar, o BTF lá estará na linha da frente para se constituir como verdadeira alternativa a este PS, tal como já o anunciou em Novembro de 2019.
Domingos Pereira – vereador do BTF na CM de Barcelos.
Com a edição de 18 de junho de 2020, do Jornal Barcelos Popular.