No rescaldo dos resultados das presidenciais muitos políticos, em vez de procurarem as suas causas preferem legitimar os seus efeitos… Infelizmente!
Como seria de esperar, na noite do passado dia 24 de janeiro todos os partidos políticos lá vieram justificar as vitórias ou derrotas em função do compromisso explícito ou implícito nos seus candidatos.
Os maus resultados para uns são sempre bons para outros, mesmo que não seja o candidato vencedor… O PS reclamou a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa pelos votos dos socialistas; o PSD reclamou a vitória porque o vencedor foi explicitamente o seu candidato; o CDS teve o mesmo discurso do PSD. Não foi por acaso que, numa estação de televisão, um comentador político acusou o PS de ter uma atitude de “cobrador do fraque”.
Os políticos reclamam sempre para si as vitórias, mas rejeitam sempre os momentos das derrotas. É por isso que, às vezes, nem sabemos muito bem qual o papel de cada um na política. Como Rui Rio desejar na noite das eleições, que Marcelo Rebelo de Sousa faça mais oposição ao governo no segundo mandato! Mas não é aos partidos da oposição que cabe tal tarefa? Depois queixem-se do Chega!
O grande vencedor foi Marcelo Rebelo de Sousa. Aliás, e independentemente do apoio explícito ou implícito do PSD, CDS e PS, respetivamente, acabaria por ter vencido (talvez com menor percentagem) porque criou, ao longo dos cinco anos, uma imagem institucional que a maioria dos portugueses aprecia; também o primeiro-ministro António Costa ganhou e, desde logo, pela derrota da esquerda, em particular do BE e do PCP, seus aliados de governo; Ana Gomes ficou muito aquém de um resultado mais próximo do PS, mais alinhado com o atual e futuro inquilino de Belém. Resta saber qual o efeito nas lutas que se aproximam na escolha da nova liderança do PS; quanto aos demais, a não ser o fenómeno do Chega cuja figura central é André Ventura, nada de novo.
O resultado de André Ventura é um verdadeiro quebra-cabeças para as forças políticas do centro e direita com real destaque para o PSD e CDS. Mas atenção: todos os partidos do arco da governação (PS, PSD e CDS) são responsáveis pelo crescimento avassalador do Chega particularmente do seu líder, André Ventura.
O PSD é e será o mais atingido a menos que, a curto prazo, a situação se inverta devido à crise de liderança desta área política. O PSD não tem sabido lidar com este governo, nem do seu papel na oposição, tantos os erros cometidos num espaço que é por natureza seu. E quem perde não é o PSD. É o país, porque um governo sem uma oposição forte será porventura um pior governo.
Ora, o Chega e o seu líder que atualmente protagonizam a direita mais radical, ao constatarem tais factos, sabem aproveitar as oportunidades que a restante oposição e governo lhes dão. André Ventura cria factos, provoca… Todos vão na onda! Nestas eleições teve mais votos no interior e Alentejo do que no litoral. Zonas francamente mais desfavorecidas. Oiçam os relatos daquela gente! De cada vez que há um novo governo é criada uma nova orgânica onde, quase sempre, é criada uma figura para o desenvolvimento do interior! Efeitos? Nenhum… A regionalização onde está? Só na Constituição… Debates quinzenais com o primeiro-ministro? Acabaram. Agora só de dois em dois meses. Permitido por quem? Rui Rio. Eleições para as CCDR que foram tudo menos uma eleição. Negociadas por quem? Rui Rio. Reforma eleitoral autárquica e legislativa com diminuição dos deputados e criação de círculos uninominais. Tudo na gaveta… Quem pega nestes temas? André Ventura. E Rui Rio? Nada! Também a falta de ética política e da autoridade do Estado só servem as forças radicas e populistas. Onde tem estado Rui Rio?
O palco do debate democrático das oposições e do governo é no parlamento, e quem o desvalorizou foi Rui Rio. E não me digam que o primeiro- ministro tem de trabalhar. Sim, tem de trabalhar. Mas em democracia tem, também, que prestar contas. E foi o PS quem institucionalizou os debates quinzenais como contributo da transparência política!
No rescaldo dos resultados das presidenciais muitos políticos, em vez de procurarem as suas causas preferem legitimar os seus efeitos… Infelizmente!
Artigo de opinião de Domingos Pereira – vereador da CM de Barcelos.
Com a edição de 4 de fevereiro de 2021, do Jornal Barcelos Popular.