Hoje vivemos e antevemos uma tragédia a três dimensões: a pandemia sanitária, a crise económica e a crise política. A primeira é catastrófica do ponto de vista sanitário e humano; a segunda porque miséria nos trará; a última porque se hoje falamos de direitos liberdades e garantias, não sabemos que crises políticas virão e se estarão garantidos esses direitos, liberdades e garantias que tanto falamos. Não só em Portugal, mas a nível global, porque hoje tudo assim funciona neste modelo de globalização. Até ver!
Uma tragédia em três dimensões
Habituados a vergarmos aos interesses dos poderosos por se imaginarem os senhores do mundo, eis que de repente e inesperadamente, ou talvez não, bastasse um parasita (vírus) de observação somente microscópica para pôr em sentido de alerta e pânico generalizado tais senhores!
Curiosamente aqueles que assim agiam e agem são igualmente atingidos pela infeção de um surto epidemiológico, já transformado numa pandemia sem precedentes com consequências dramáticas, bem longe de uma avaliação precisa ao nível mundial. Porém, seguramente devastadora.
As potências mundiais e os políticos poderosos circunscreviam sempre para si a dominação do mundo, desde a ameaça de uma guerra e dela se protegerem em função da sua capacidade belicista: os seus poderosos misseis de alcance diverso, forças aéreas, navais, terrestres e até as armas nucleares; ou, por outra via, ameaçarem o mundo através da sua influência financeira com políticas monetárias e cambiais, ou guerras comerciais e sanções económicas.
Puro engano. Esta “Covid-19” é transversal a todas as camadas sócio profissionais independentemente do seu estatuto; é transversal a todos os políticos e governantes; a todos os detentores do capital quer material quer simbólico; a todos Estados ricos ou pobres.
Bastou, porventura, um simples gesto para que esta pandemia se tornasse numa enorme ameaça para a humanidade. Quantas mortes de avós, pais, filhos, netos, amigos e famílias que sofrerão com esta doença que ninguém quis perceber nem prever? Os sistemas de saúde não estão preparados para estas ameaças, por incúria e egoísmo dos poderosos mundiais.
De uma aparente epidemia circunscrita a uma zona geograficamente longínqua, se transformou numa pandemia sanitária que se refletirá numa preocupante crise económica e, concomitantemente, numa crise política. E é depois desta crise pandémica que todos vamos ter medo e noção da “guerra” económica e política que se seguirão.
Nada ficará como dantes. No plano económico quantos empregos resistirão? Quantas empresas encerrarão a sua atividade? Quantos governos conseguirão garantir os apoios socias às famílias mais carenciadas? Quantos governos resistirão em não aumentar os défices orçamentais? Quantos governos resistirão aos cortes das pensões e salários? Quantas empresas pagarão os salários dos seus trabalhadores, etc., etc., etc., e quantos sistemas públicos de saúde continuarão a ser o pilar de acesso universal à saúde?
Há cerca de um mês falávamos do excedente orçamental, estabilidade económica, estabilidade financeira, estabilidade social, crescimento do PIB. Hoje vivemos e antevemos uma tragédia a três dimensões: a pandemia sanitária, a crise económica e a crise política. A primeira é catastrófica do ponto de vista sanitário e humano; a segunda porque miséria nos trará; a última porque se hoje falamos de direitos liberdades e garantias, não sabemos que crises políticas virão e se estarão garantidos esses direitos, liberdades e garantias que tanto falamos. Não só em Portugal, mas a nível global, porque hoje tudo assim funciona neste modelo de globalização. Até ver!
Domingos Pereira – Vereador da CM de Barcelos
Com a edição de ontem, 26 de março de 2020, do Jornal Barcelos Popular